sexta-feira, 14 de agosto de 2009

MEDICINA OCULTA NO COTIDIANO 7

A MENOPAUSA DESEJADA
Há algum tempo estava viajando de carona com um amigo e sua mãe. A senhora, sumamente simpática, dizia que o seu maior desejo na vida era ter e criar filhos, para ela não era importante ter marido e sim ter filhos e que, apesar do seu casamento ter acabado, ficou com os filhos e os criou alegremente. Sentia-se realizada. Curioso, perguntei-lhe como havia sido sua menopausa. Contou que para ela a menopausa fora apenas a suspensão das regras sem nenhuma outra intercorrência. Lembrei-me então de uma outra mulher, cujo propósito na vida não fora ter filhos, mas que, tendo tido uma filha apenas, encontrara realização em suas atividades intelectuais. Chamava-a Bete, casada com Luís Guimarães, com ele formando um casal delicioso que, apesar de idosos quando os conheci, estavam sempre cercados de jovens, pois eram adoráveis, interessantes, instigantes... Tampouco Bete teve sintomas da menopausa.
As mulheres queixam-se com freqüência de fogachos, ressecamentos vaginais e enfraquecimento da pele entre outras coisas quando chega o climatério. Porém nem todas as mulheres do mundo têm estas queixas. Aliás, fora do mundo civilizado estas coisas não são norma e, às vezes não são freqüentes.
Em nossa sociedade, até recentemente o único propósito da infinita maioria das mulheres era casar, ter filhos e cria-los. Quando vinha a menopausa, os filhos já criados, ficava uma sensação de que nada mais havia a fazer. Minha mãe um dia me disse que na criança dos filhos muitas vezes a mãe dá a mais do que devia. Explicou-me que até uma certa medida é útil, acima dela é demais e como tal in-necessário. Ela me disse que tinha a sensação de que se privou de outras coisas (como, por exemplo, de seu desejo de estudar psicologia) quando deu a mais do que era realmente necessário. Esta conversa ocorreu quando já era uma senhora com os cabelos canosos e foi fruto de uma reflexão demorada, pela qual sou agradecido, pois muito me elucidou quanto a certos aspectos da parternidade/maternidade. Mas, que fazer quando não se fez em tempo hábil?
Na vida nós os seres humanos carecemos de propósito, como muito bem assinala Victor Frankl. Mas quando uma mulher chega na menopausa ela alcançou o seu propósito, pois sua vida fértil chegou ao fim, e regra geral os filhos estão criados e donos de sua vida (aliás, é pior quando isso não aconteceu). Uma vez que alcançou seu propósito (ou uma vez que descobriu que não conseguiu alcançar seu propósito porque os filhos não se educaram e o casamento fracassou), a mulher fará o que? Sofrerá sintomas da menopausa. Lou Marinof (in “Mais Platão e Menos Prozac”) comenta que alguém disse que o ser humano foi feito para ter vários propósitos um de cada vez. Muitas mulheres em nossa sociedade têm emprego fora do lar e isso tem sido bom, e..., ruim, em alguns casos. Infelizmente nem sempre nos realizamos no emprego. Às vezes ali é apenas um lugar onde ganhamos o sustento. Tantas mulheres carregam fardo dobrado ou triplicado, atuando como “rainha do lar”, ademais de suas atividades profissionais, as vezes maçantes. E, após uma vida de labuta, nem sempre olha com alegria o fruto de suas fadigas, podendo incluso ver que filhos e esposo não reconhecem seus esforços.
Lutar pelo propósito de criar os filhos pode ser muito significante (como no caso da primeira senhora acima citada), mas pode não ter tanto significado e labutar sem sentido não é agradável. Não importa o trabalho escolhido, emprestar-lhe um significado, coisa que só se pode fazer através (também) a inserção de uma carga emocional, é torna-lo vivo. E, aquelas que conseguiram isso, ficaram felizes e tendem a ter uma menopausa sem queixas. Então assumem alegremente o fato de que a mulher menopausada extrapola sua função social – relacionada à fecundidade, à criação e ao domínio conjugal. Agora, ela é algo assim como uma grande mãe, um exemplo de vida para toda a humanidade. Em certa medida, passa a ser a mãe de toda a sociedade humana. Simbolicamente, sua imagem se confunde com aquela da avó sábia. Principalmente quando ela sabe encarar as mudanças tecnológicas e sociais dos últimos tempos, mas mantendo seu domínio histórico, ela carregará a tocha civilizatória. Sim, ela – em par com seu companheiro, o avô – será a responsável por contar as histórias, cotejar as velhas verdades com as novas conquistas humanas, ajudar-nos a discernir aquilo que não mais é útil daquilo que permanece incólume à passagem do tempo.
Longe de mim olvidar os aspectos fisioquímicos da menopausa. Aqui ressalto algo de seu caráter psicossomático que, sem dúvida é um dos aspectos da essencialidade humana.
recebam um abração

2 comentários:

  1. Caro, Dr. Áureo

    Estou embevecidas com as suas palavras. Quanta sensibilidade e verdade. E quanta lucidez também.

    Nós, mulheres, somos submetidas, de tempo em tempos, a diversas padronizações "civilizatórias" e ai de nós quem não comunguem com estes princípios. Ter sintomas da menopausa, tipo fogachos, secura vaginal, perda da libido, envelhecimento, ossos quebrando, corações partindo, virou padrão. E, claro, assim como a TRH virou a tábua de salvação.

    Eu já estou com um dedinho do pé na menopausa mas acordei a tempo de não me deixar envolver por estas condutas, muitas vezes, más condutas, de nos padronizar.

    O mundo tá muito diferente e buscar a felicidade artificial (leia-se Prozac,Lexotans, etc), virou uma espécie de paradigma nas condutas terapêuticas.

    Sou mais enteder este ciclos, buscar novos propósitos para a vida adiante e ter um olhar pessoal e individual para o nosso corpo, espirito, emoções, e entender que MENOPAUSAR faz parte do ciclo da vida.

    Um grande abraço e desculpe o texto longo.

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  2. Mto bem Jussiara! Menopausar faz parte do ciclo. Mas não interessa a determinados círculos.
    Receba um abração.
    Aureo Augusto

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