sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

MEDICINA OCULTA NO COTIDIANO 22

FREUD NÃO EXPLICA
Precisamos conhecer. Além do prazer que nos dá, o conhecimento pode colaborar na melhoria de nossa vida. E a ciência é uma grande fonte de conhecimento e de certeza para nós. Uma certeza, um tanto incerta é verdade, porém muito útil. O problema é que os estudos científicos evitam ser tendenciosos, mas não conseguem sê-lo. Estou lendo o excelente livro de John Horgan, A Mente Desconhecida, no qual o autor mostra que todas as afirmações conclusivas quanto ao funcionamento da mente, são inconclusas. Ao lê-lo me dá uma enorme confiança na ciência, ao contrário do esperado descrédito. Ali, como em outros lugares, podemos observar que o pensamento humano é um vai-e-vem, como um iô-iô. O autor trata de ciência, mas se lermos A História do Pensamento Ocidental, de Berthrand Russel, ou a História da Filosofia, de Jean François Revel, chegaremos à mesma conclusão quanto ao pensamento político e quanto à filosofia. E tudo isso traz em mim a certeza de que caminhamos na direção certa, tanto em ciência quanto em filosofia. A infelicidade em ambas as áreas é a idéia reducionista de que o ser humano ou o Universo podem ser explicados por apenas uma teoria e/ou um fator, ou poucos fatores. Kenneth Blum, da Universidade do Texas, afirmou que havia uma relação direta entre um certo gen e o alcoolismo. Para ele seria relativamente fácil para os pais detectarem se seu filho seria viciado em álcool. Suas pesquisas foram consideradas suspeitas por Irving Gottesman da Universidade da Virgínia e pelo famoso Dean Hamer, também geneticista. Este mesmo Hamer achou que o homossexualismo masculino e, em pesquisa posterior, o feminino também, estava vinculado a um gen presente no cromossomo X. Isso deu muito pano pra manga, mas numerosos outros geneticistas negaram tal evidência. Assim como negaram evidência a sua afirmação de que ansiedade e ânsia de novidades eram determinados geneticamente. Alguns, como o psicólogo David Likken, encantados com as afirmações e deixando de ver as negações, chegaram a sugerir que o governo só permitisse engravidar as mulheres com alto quociente de inteligência. O interessante é que até hoje não está efetivamente claro o que é e como se produz a inteligência e muito menos o real papel dos genes como fator de geração de inteligência. Naturalmente aqueles que fazem este tipo de proposta não conheceram o trabalho de Daniel Golleman, sobre múltiplas inteligências e se esqueceram de pensar na felicidade humana. Inteligência, além de desconhecida, não é tudo. Tenho visto muita gente bastante inteligente “dar com os burros n’água”. Chego até a considerar que os mais inteligentes são freqüentemente os mais dados ao auto-engano, principalmente quando são dominados pela tão comum vaidade.
Quanto mais leio e aprendo, mais dou razão ao velho Sócrates quando dizia que “tudo que sei é que nada sei”. Penso que cada cientista deveria ter esta frase afixada em um lugar bem legível em suas salas de trabalho. Talvez assim pudessem escapar do tentador desejo de enfeixar com uma descoberta todo um assunto. A cada um o seu lugar, ou seja, seria muito bom se, relegando os interesses narcísicos a um segundo plano, considerassem suas pesquisas como indicadores seguros de que parte de um determinado fenômeno poderia ser esclarecido também com aquela contribuição. Mas que esta contribuição deveria ser somada a muitas outras. Imaginar que inteligência ou esquizofrenia são frutos unicamente de fatores genéticos, considerando que o meio (educação, traumas, alimentação da mãe na vida pré-natal entre outros fatores) não tem valor, parece-me tão bobo, quanto não reconhecer que os genes também interferem em nossa vida. A obviedade desta constatação leva-me a perguntar por que os cientistas tão insistentemente pecam pelo reducionismo. Penso que aí estão as armadilhas da própria mente. Muitos estudos de genética são financiados por instituições racistas, assim como a maior parte dos estudos quanto a efeitos benéfico das drogas são mantidos por grandes laboratórios. Será que o pesquisador consegue ser realmente isento de tendenciosidade? Diversos estudos provam que não. Fora isso ainda encontramos outros fatores menos facilmente detectáveis, como o desejo de aparecer, bem como outros fatores que, como se dizia nos anos 60, “Freud explica”. Sem esquecer que as explicações de Freud, além de não serem realmente científicas (pelo menos se considerarmos os padrões epistemiológicos de Karl Popper), também não explicam tudo.
Um abração, Aureo Augusto

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