quarta-feira, 12 de maio de 2010

DOS ENCERRAMENTOS

Nem sempre é fácil fechar um período em nossas vidas. Há bastante tempo eu vivia em uma comunidade alternativa (esta palavra pede comentários, mas não os farei agora). Nela vivia um jovem muito agradável. Ele mostrava-se feliz por ali viver e foi assim durante alguns anos, porém com o tempo uma inquietação tomou conta de seu corpo e ele já não estava mais tão bem naquele lugar. Durante o período em que ali viveu, foi um colaborador excelente, mostrando-se delicado com os demais e um trabalhador ativo, contribuindo efetivamente para o próprio bem estar e para o conforto de todos. No entanto chegara a ora de seguir outro caminho, porque às vezes os caminhos se separam e a trilha que é a nossa vida, de repente, pode embicar para um lado inesperado. Pensamos que as sendas que trilharemos no nosso viver serão de um determinado jeito e, quase sempre, acontece mais ou menos do jeito que pensamos. Mas ‘quase sempre’ não é ‘sempre’. Por isso sempre ‘alguma vez’ o de vez em quando se revela na tortuosidade do caminho.
Só que, como disse antes, nem sempre é fácil finalizar... Aquele jovem amava o lugar e era-lhe difícil afastar-se. Que fez então? Começou a ver com agudeza os defeitos do lugar e das demais pessoas que ali habitavam. Os tais defeitos sempre estiveram ali; e as qualidades não desapareceram, mas agora ele não conseguia afastar da visão os aspectos negativos da comunidade. Por sorte era pessoa bastante querida dos demais, que se preocuparam quanto ao que estaria acontecendo com ele. Nas muitas conversas que se estabeleciam durante os trabalhos ou descansos, aproveitava-se suas ausências tornando-o assunto delas; começou a nascer em alguns dos demais residentes um ressentimento, decorrente do fato de que ele havia mudado; outros eram mais compreensivos e queriam discernir o que nele se passava. Após algum tempo descobrimos que ele queria sair da comunidade, mas não sabia como faze-lo. Foi uma revelação! Inclusive para ele. Fui o encarregado de comunicar nossa constatação ao jovem, em uma de nossas reuniões periódicas; por isso, disse-lhe que já que ele queria sair, que o fizesse em paz, não era necessário encontrar motivos negativos para tanto. Podia faze-lo pelo positivo motivo que ele estava crescendo, que era jovem, o mundo e um mundo se abria a sua frente, daí era o mais natural que fosse ao encontro desse mundo. Desde esse momento as coisas seguiram um curso de paz saudosa.
Essa experiência me tem ajudado porque muitas vezes muitas coisas se terminaram em minha vida. No seu tempo eu também saí daquela comunidade; já morei um período no Chile, fechando um tempo em Salvador, minha cidade natal, para onde retornei, quando se completou o tempo fora do país; encerrei a quadra de moradia na grande cidade e vim para o Vale do Capão; trabalhei em vários hospitais, passei para outros, dos quais, a seu tempo também tive de me despedir. Nem sempre as finalizações foram a contento, porém a partir daquele episódio tive um mapa facilitador para mim e espero que possa essa leitura ter a mesma serventia para o leitor, afinal, se nós fossemos passar por todas as experiências úteis para adquirirmos todo o aprendizado necessário a uma vida harmônica, não haveria tempo de vida que desse. A história dos demais, se bem apreciada, vira experiência própria.
Aureo Augusto.

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