sábado, 26 de novembro de 2011

DOENÇAS SEXUAIS E O VALE

A DIRES (Diretoria Regional de Saúde da Secretaria de Saúde do Estado) chamou médicos e enfermeiros para um curso sobre DST que me deixou perplexo. Feliz porque a pessoa que o conduziu, o Dr. Roberto Fontes, se mostrou possuídos pelo significado da proposta e nos envolveu com o sentido de urgência que o tema inspira. Sempre me causa grande admiração encontrar pessoas que sabem um bocado de coisas e o Dr. Roberto sabe muita coisa de modo que sua presença ali na frente era como se fosse uma fonte como a que tem na subida dos Gerais do Vieira e que encontramos justamente no final da ladeira quando a sede é mais forte. Aprendi a rodo. Mas o Dr. Roberto, além de dispositivos técnicos essenciais para melhorar a qualidade do nosso trabalho, trouxe muito material do campo das essencialidades que já estão aderindo, ou melhor, sendo absorvidos, incorporados, ao meu proceder.

Ali também tive a oportunidade de encontrar alguns queridos amigos e amigas que tenho encontrado nos Encontros de Profissionais de ESF que a equipe da USF-Vale do Capão e seus parceiros promove no vale, dentre eles Gleiton, que foi enfermeiro por aqui e o Dr. Danilo que é um jovem médico, mas que já é um exemplo e que será grande, não necessariamente daquela grandeza que o torne presidente de alguma sociedade médica. Ele, claro, pode sê-lo, pois não lhe falta competência, mas há outra grandeza, a meu ver mais significativa, que é silenciosa. Aquela que leva o profissional a fazer bem feito naquilo que deve fazer. Uma coisa do dia-a-dia, que é o maior heroísmo de todos. É muito fácil aparecer, inda mais nesses dias narcísicos em que vivemos. O difícil é tornar o dia-a-dia repleto de significados que por si só alimentem a alma, sem mistificações desprovidas de valor real. Tomei o médico como exemplo, mas ali naquela sala outros mestres meus (alguns tão jovens) estavam ali me ensinando.

Outrossim, dentre as muitas e positivas instabilidades que o curso trouxe, houve uma que muito me tocou que foi a informação de que a sífilis está voltando a galope e que em Salvador ela está se tornando comum. Lembrei-me tocado pela emoção que, quando ainda estudante e muito jovem, adentrei pela primeira vez a neonatologia da Maternidade Tsylla Balbino, ali encontrei, para meu susto e pasmo, um berço onde estava escrito em pincel atômico azul no verso de um papel de prontuário: “aguardando o óbito”. A chocante e naquele ambiente pouco advertida frase me fez aproximar-se do bebê que ali falecia. Tentei afaga-lo, mas ao toca-lo este emitiu um grito de dor e a auxiliar de enfermagem me alertou que qualquer movimento lhe era doloroso. A cena perturbou-me sobremaneira e nunca a esqueci. Naquele tempo contatei apenas dois casos de sífilis. Depois nunca mais encontrei outros casos da doença. Quando vim par ao Capão, este lugar por ser muito isolado estava resguardado de muitas coisas. Havia aqui um senhor que padecia de estenose uretral, decorrente muito provavelmente de gonorreia inadequadamente tratada, adquirida em São Paulo, mas o fato é que não vi doenças venéreas ou se vi, não adverti. O vale era protegido pelo silêncio que dele havia no mundo.

Quando por aqui algum marido traía sua mulher ou vice-versa (que aconteceu sim, porém com menos comentários, pois o proceder das mulheres sempre foi mais vigiado e por isso elas vigilavam melhor os cuidados) era com algum vizinho que desconhecia o contato sexual com fontes de doenças venéreas de modo que em todos estes anos vivendo por aqui todavia não encontrei nenhum exame positivo para sífilis.

Mas agora, a coisa pode mudar, pois milhares de soteropolitanos dos mais variados tipos, bem como exemplares às vezes bastante esdrúxulos de turistas aqui aportam. Dentre estes existem alguns que são decididamente autodestrutivos. E destes, a maioria, não deseja apenas destruir-se, quer levar consigo uma fração da humanidade e seu comportamento com o próprio corpo é de grande desleixo e desprezo e tal conduta é isomórfica àquela que mantém com as demais pessoas. Por isso, ontem, na reunião da equipe da nossa unidade de saúde, este foi o tema. E estamos mobilizados para começar a fazer algo para alertar, principalmente aos jovens, quanto à necessidade de cuidados redobrados na prazerosa área de sexualidade.

Voltarei a este tema, pois creio que vale conversar um pouco sobre cuidados relacionados às enfermidades sexualmente transmitidas.
Recebam um abraço cuidadoso de Aureo Augusto em 26/11/11.

4 comentários:

  1. Amigo querido
    A intensão era justamente essa: alertar os profissionais de saude da Chapada, sobretudo do Capao,(ja te confessei meu "ciume" por este cantinho especial do mundo...rrsrs) sobre os riscos de contaminacao por essas doencas, a necessidade de acoes preventivas e os cuidados com aqueles que ja estejam doentes.
    Vamos juntos por este caminho!
    Bjs

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  2. O Vale do Capão tem sorte de ter uma pessoa como vc, Solange, indo junto conosco!
    Grato!

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  3. A promiscuidade pede o concurso de afluxo de gente, por isso as zonas portuárias sempre coincidiram com as zonas de meretrício. Essa confluência de zonas é que deve ter originado a simplificação pra 'zona'. Rerré!
    Mas havendo chegada contínua (ou passagem) de novas gentes no Capão, fazem-se urgentes campanhas de esclarecimento, pois gente de diferentes procedências implica diferentes costumes de higiene (ou a falta deles).
    _Abraço.

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  4. Pode deixar, Tesco, pois estamos bem ligados e este curso nos trouxe para a terra radical. No próximo ano vamos entrar com uma programação voltada para estes entre outros problemas com mto cuidado.
    abração

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